Na era digital, a tecnologia mudou o panorama da sociedade e causou um impacto negativo na forma em que as pessoas se relacionam com os outros e com elas mesmas. Esta geração, chamada de geração millennial, está passando por uma forte dependência digital que têm implicações prejudiciais para o futuro. De acordo com KPCB Internet Trend Reports, as pessoas verificam seus celulares, em média, 150 vezes por dia, ou uma vez a cada seis minutos. Outro dado que comprova que a sobrecarga digital se tornará ainda mais relevante é a lista de empregos do futuro, divulgada pela consultoria norte-americana Sparks &Honey, que destaca o terapeuta de detox digital, profissional capaz de desintoxicar um indivíduo extremamente viciado em internet e dispositivos eletrônicos. O ato de se conectar tornou-se tão natural, que nem nos damos conta de que estamos sendo escravizados por ele. Será esta nossa nova natureza? Ou será que precisamos aprender a controlar o que está nos controlando?
Há uma tendência crescente em ações, empresas e projetos que
buscam a conscientização sobre esta questão. Um exemplo tangível para nós, brasileiros, é o Copo
Offline, copo que só fica em pé se estiver
apoiado no celular. Criado pela Fischer&Friends para o Bar São Jorge, de São Paulo, atraí clientes com o slogan resgatando as pessoas do mundo online de volta pra mesa
do bar. Outro exemplo é o projeto Reconnect, desenvolvido pela designer holandesa Leonie de Ruiter, que
busca questionar o comportamento antissocial causado pelo uso do celular e
(re)conectar as pessoas através do design singular de joias, que monitoram e auxiliam o seu vício. O estilista japonês Kunihiko Morinaga
também entrou nessa onda e criou uma coleção de roupas que bloqueia o sinal de
celular. A coleção, intitulada Focus, possui o mesmo objetivo – proteger-se da imensidão de
informações advindas da vida virtual. O filme futurista Her, uma crítica sobre as relações humanas e o vazio que
sofremos pelo meio tecnológico também é um exemplo dessa tendência. O Experience People, movimento que incentiva as pessoas usarem a tecnologia de forma moderada e encontrarem valor no mundo
físico ao seu redor. Ao longo de 12 semanas, em 20 cidades dos Estados Unidos,
os criadores do movimento, o empresário Brian
Hiss e o cineasta Rob Alto, entraram
em uma jornada para sensibilizar acerca da dependência digital.
Para explicar esse novo espírito do tempo, o livro The Village Effect - How Face-to-Face Contact Can Make Us
Healthier, Happier, and Smarter, escrito por Susan Pinker, é um ótimo condutor. The Village
Effect é colocado como metáfora para os
contatos sociais que todos precisamos ter, como humanos, para poder prosperar.
Em uma comunidade de 150 pessoas, que pelas palavras do psicólogo evolucionista
de Oxford, Robin Dunbar, é o número máximo de relações significativas que o cérebro
de um ser humano pode gerenciar, é possível ter uma vida muito mais saudável
tanto física como psicologicamente. Pelas palavras da autora, quando você está
se reunindo face-to-face com alguém, acontece uma série de fenômenos biológicos:
ocitocina e neurotransmissores são liberados, reduzindo o estresse e
possibilitando o sentimento de confiança. O contato físico desencadeia diversos
eventos que estimulam a saúde e bem-estar humano. O contato online, por sua vez,
propicia desconfiança, estresse, superficialidade e solidão, o que afeta
diretamente na nossa saúde. O mundo virtual é, sem dúvida, extremamente
fascinante, porém, não há verdadeiras experiências a serem vividas atrás de uma
tela de computador.
Uma dica interessante para as marcas inovarem na hora de vender
seus produtos para o indivíduo contemporâneo,
que adentra ao espírito do tempo, é trazer o sentimento de (re)conexão entre as pessoas,
fazer com que elas se sintam pertencidas a algo
ou alguém, estabelecer novas experiências sensoriais, seja em uma loja física, em produtos ou em campanhas. Um exemplo é o caso do aplicativo de mensagens que faz você falar com
estranhos, o Somebody, criado por Miranda July. O
aplicativo funciona da seguinte forma: quando alguém manda uma mensagem para um
amigo, ela é encaminhada para uma pessoa perto à ele que, através de uma foto e
do GPS, vai procurar entregá-la verbalmente para o destinatário.
Contudo, a mensagem da nova configuração de sociedade e das
relações contemporâneas é simples: reconecte-se!
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