27 de janeiro de 2015

Série envia blogueiros de moda para conhecer fábrica têxtil no Camboja

"Os jovens da Noruega gastam uma quantidade enorme de dinheiro em roupas, mas eles não fazem ideia onde elas realmente são produzidas", disse o diretor noruegues Joakim Kleven. Desconhecer a origem do que se veste não é exclusividade dos jovens noruegueses, mas foi de Oslo que partiram os três blogueiros de moda que participaram de uma série-reality dirigida por Kleven. O destino? Uma fábrica de roupas no Camboja.
"Sweatshop - Dead Cheap Fashion" (lançada no meio de 2014 e disponível online com legendas em inglês aqui) começa com uma apresentação dos fashionistas. Ludvig Hambro, Frida Ottesen e Anniken Jorgensen falam sobre a quantidade de roupa que compram e a dificuldade para guardar tudo o que têm. Um corte rápido e eles estão no aeroporto, fazendo escala em um país que não fazem ideia ('Seria o Egito?' pergunta Frida) e chegando na capital Phnom Penh.
Apesar de se deparar com uma realidade completamente diferente da sua, não é até o terceiro episódio que Ludvig, Frida e Anniken percebem quão ruim é a vida de quem trabalha nas fábricas de roupas do país.
É só depois de dormirem na casa de uma jovem cambojana que ganha US$ 3 por dia, de passarem quase 12 horas em uma das fábricas costurando e de ouvirem histórias de pessoas que simplesmente morreram por não conseguirem se sustentar, que frases como "Acho que eles estão acostumados" e "Há trabalhos piores" são substituídas por um choro compulsivo.
Kleven conta que o impacto foi grande.  "Para eles foi um choque ouvir as histórias, sei que eles ainda sofrem com o fato de que as marcas financiam baixos salários e muitas fábricas ainda têm péssimas condições. Mesmo sendo o diretor, eu lembro que em alguns momentos eu chorei por trás da câmera. Não foi nada fácil. Eu penso nisso até hoje."
Anniken Jorgensen no começo da série 'Sweatshop'

Anniken é autora de um dos blogs mais lidos da Noruega, segundo ela, com 10 mil acessos diários. O site rende a ela, além de uma renda, um armário inteiro de roupas por mês. Agora, ela disse que compra roupas raramente, mas enfatizou que não acredita que seja esse o cerne do problema, mas sim as condições de trabalho.


                                  Anniken chora ao ouvir a historia da cambojana
"Eu mudei. Não tenho apenas uma nova visão sobre roupas, mas sobre muitas outras coisas. Tenho até um pouco de medo de me tornar uma mulher amarga. Escrevo bastante sobre isso no meu blog, que virou mais um blog sobre estilo de vida depois que eu voltei", contou ela.
Além da mudança no blog, ela disse que passou por um tumulto emocional. "Eu chorava muito. Amigos e professores não entendiam, e claro que não. Eu aguentei firme, mas quando veio a estreia, dois meses depois, todo o sentimento voltou. Não aguentei ficar na estreia, me desculpei e disse que precisava ir para casa."
Faz quase um ano que a série foi gravada e Anniken está com 18 anos. Ela disse que não sabe muito o que vai fazer daqui pra frente. Não tem planos de estudar, e deve continuar a escrever (quem sabe um livro?). Mas uma coisa, segundo ela, é certeza: vai voltar ao Camboja.
Kleven contou que queria criar uma série que fizesse as pessoas reagirem. "Conseguimos!". Segundo ele, a maior dificuldade para a realização do reality foi encontrar uma fábrica que permitisse a gravação.

"Não conseguimos entrar em nenhuma fábrica, a não ser aquela em que os jovens trabalham no terceiro episódio. Em outro episódio, estávamos do lado de fora de uma só fazendo algumas imagens e após dez minutos o dono apareceu e mandou desligarmos a câmera. Quando você ouve algo assim você começa a pensar sobre o que acontece do lado de dentro. E é assustador."
Com a repercussão da série, algumas marcas divulgaram posicionamentos - como a H&M, cujo comunicado aparece no último episódio. Anniken conta que falou muito do assunto em seu blog e chegou a conseguir uma reunião com os chefes da sede norueguesa da empresa.
"Mas eles sentaram ali e disseram que tudo o que eu vi não os representa porque eu não visitei as fábricas deles", disse Anniken, acrescentando que isso só aumentou sua raiva. "Aqui na Noruega a indústria têxtil asiática virou um tema a ser discutido no Parlamento graças a 'Sweatshop'", disse Kleven.
O jovem diretor (acreditem, ele tem apenas 22 anos) é também um editor apaixonado por videoclipes. Além de "Sweatshop" ele compôs uma música sobre direitos gays e disse que os trabalhos "são uma contribuição com a luta por temas que são importantes para mim".
Ludvig fez uma tatuagem com o símbolo da luta dos trabalhadores cambojanos: eles querem um salário mínimo de US$ 160 por mês
: g1.globo.com

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